terça-feira, 21 de junho de 2011

Vale mais um palhaço deputado do que um deputado palhaço

Por Érico Veríssimo - Acadêmico de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e metido a blogueiro de vez em quando

Texto publicado originalmente no Blog: http://blogdoericoverissimo.wordpress.com


Érico Veríssimo
Recordista de votos nas eleições de 2010, Francisco Everardo Oliveira Silva, conhecido como Tiririca, foi eleito sob a suspeita de não saber ler nem escrever e de ter fraudado uma declaração em que afirmava o contrário. Ao passar por um teste de leitura e escrita, foi absolvido pela Justiça Eleitoral e pôde assumir seu mandato.

Nomeado para a Comissão de Educação e Cultura da Câmara recebeu diversas críticas, mas rebateu afirmando ser uma das pessoas mais indicadas para defender a cultura no Brasil, devido à sua origem circense. Se Romário, Bebeto e tantos outros artistas alçados a um cargo eletivo saíram em defesa de causas com as quais estão familiarizados, por que o palhaço não poderia fazer o mesmo?

Nesta semana, alguns projetos de sua autoria foram entregues ao plenário da Câmara, merecendo destaque o que trata da criação de uma “bolsa” para adultos que concluírem curso de leitura e escrita, tendo uma freqüência mínima de 85% às aulas, ao menos por seis meses. O piso da bolsa seria de R$ 545 e, segundo a descrição do projeto, serviria como um incentivo para quem não tenha se alfabetizado na chamada “idade escolar”.

Tiririca não tem usado a tribuna para discursar e, de acordo com seus colegas parlamentares, tem sido discreto no Congresso. Parece que ele realmente resolveu levar a sério a função que lhe foi atribuída pelos eleitores ou, talvez, esteja acanhado diante da concorrência que enfrenta lá dentro.

Porém, não nos causará surpresa se o “palhaço deputado” apresentar projetos relevantes durante seu mandato. Sua preocupação social e respeito aos eleitores parecem mais legítimos do que os de alguns “deputados palhaços” que insistem em posar de defensores dos fracos e oprimidos, apresentando mil e um projetos inúteis, mas, que na verdade, são movidos apenas por interesses particulares.

O Partido da República (PR) lançou a candidatura de Tiririca exatamente para ganhar milhões de votos e “puxar” o maior número possível de deputados para aumentar a representatividade no Congresso. Antes disso, a direção do partido levou um “não” ao consultar algumas celebridades. Ponto para o partido, ponto para o deputado “puxador” de votos e descrédito para a política nacional, que com suas regras permite a eleição de candidatos com votos insuficientes até mesmo para se tornar síndico de condomínio.

Claro que Tiririca não foi inocente, pois sabia muito bem onde estava pisando e esteve sempre confiante de que seria eleito. Convencido por políticos “experientes” de que sua carreira política seria tão bem sucedida quanto à artística, topou o desafio sob uma saraivada de críticas.

O “palhaço” aventureiro teve mais de um milhão e trezentos mil votos e se sagrou campeão nas eleições de 2010. Eleitores insatisfeitos com a cena política nacional ou, simplesmente, contrariados com a obrigatoriedade do voto, decidiram votar em Tiririca como uma forma de “protesto” e ignoraram as regras do coeficiente eleitoral.

Ele acabou “levando” para o Congresso três deputados de sua coligação, cada um com menos de 100 mil votos! Entre eles, o ex-delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, conhecido durante a Operação Satiagraha, realizada em 2008, que levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas, do banco Opportunity.

Fátima Bezerra (PT-RN), presidente da comissão de Educação e Cultura da qual Tiririca faz parte diz que, embora ele tenha mantido a discrição nos trabalhos da Casa, freqüenta com assiduidade todas as reuniões. Acredito que toda proposta séria que envolva educação e fomento à cultura seja válida.

Em meio a tanta roubalheira, corrupção e projetos que ficam eternamente engavetados, apresentados por senhores que se dizem “sérios e acima de qualquer suspeita”, a aposta de que um palhaço de verdade possa fazer a diferença não pode ser em vão. Não me importo se foi o próprio Tiririca que elaborou ou, no mínimo, pensou tais projetos ou se a autoria é de sua equipe de assessores.

Deve-se esperar que a atuação do deputado seja, de fato, condizente com o cargo que ocupa, não importando se ele está aparecendo pouco diante dos holofotes, mas sim comparecendo ao trabalho. A apresentação de propostas deve ser ao menos levada em conta e defendida, ainda mais se os projetos tiverem cunho social e atenderam às demandas da população.

Embora Tiririca tenha levado quatro meses para apresentar as três propostas, vale lembrar que mais de cem deputados até hoje não apresentaram nenhuma. Também é válido acreditar que a compostura do humorista Tiririca dentro do Congresso possa vir a ser exemplo de comportamento para os seus colegas (os parlamentares!) que insistem em nos fazer de palhaços e, muitas vezes, fazer daquela Casa um verdadeiro circo de horrores.

2 comentários:

Cristofer Floco disse...

Érico, li seu blog essa semana e fiquei muito feliz por ver seus textos aqui. Parabéns!

Érico disse...

Putz! Olá, Cristofer! Tudo bem? Cara, só agora vi seu comentário (quase um mês depois!) Obrigado, camarada! Estamos aí!

Abraços!