terça-feira, 28 de junho de 2011

A derrota do Estado

Por Érico Veríssimo - Acadêmico de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e metido a blogueiro de vez em quando

Texto publicado originalmente no Blog: http://blogdoericoverissimo.wordpress.com



Érico Veríssimo
A platéia que compareceu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) na terça-feira, dia 21, antes, durante e depois do julgamento dos embargos protocolados pelos advogados do governador José de Anchieta contra a cassação de seu mandato em fevereiro deste ano, parecia constituída de torcedores de times de futebol, espectadores de um clássico que provoca grandes emoções e desperta uma rivalidade que, assim como ocorre nos estádios, nem sempre termina bem. Os “ingressos” poderiam ser “vendidos” a partir das 7 da manhã, quando começaram a chegar os primeiros torcedores de ambos os times.

Para organizar o acesso ao prédio e evitar tumultos, foram disponibilizadas 40 vagas para cada “torcida organizada” e muitos ficaram do lado de fora, aguardando o resultado do julgamento e esperando a hora certa para acender os fogos de artifício, soprar cornetas e cantar o hino do time, independente do resultado. Talvez houvesse confete e serpentina também.

As últimas ações judiciais envolvendo o atual governador e o segundo colocado nas eleições de 2010, Neudo Campos, sempre geram uma expectativa (quase uma euforia) quanto a quem estará à frente da governança do Estado no dia seguinte. Alguns se frustram, outros se regozijam. Há os que realmente se importam com a instabilidade constante sob a qual o Estado é governado e outros nem sabem do que se trata, estando ali só para engrossar o coro dos contentes (e dos descontentes). Infelizmente, trata-se de uma parte considerável que acaba influenciando a vida de todos por longos anos e reduzem as discussões políticas ao valor de “compra e venda” de cada voto.

Há ainda aqueles que são “convidados” a participar e os que recebem café da manhã, almoço e lanche como forma de agradecimento ao “apoio” dispensado. Como em alguns clássicos do futebol, as torcidas se organizam e têm à disposição transporte gratuito para que não deixem de participar desse gesto “democrático”. Tudo por amor ao “time” e pelo bom funcionamento da máquina pública.

O “jovem” Estado de Roraima é acometido desde a mais tenra idade por uma forma de se fazer política que assola os grandes currais eleitorais nordestinos há muito tempo. O modus operandi de velhos coronéis parece ter sido importado junto com a leva de políticos originários do Nordeste que aqui vieram fazer “carreira”.

Sem contar os milhares de “eleitores” que foram incitados a colonizar essas terras, quando ainda éramos apenas Território Federal. Estavam à procura do seu Eldorado, só que em lugar de riquezas e delícias, a política e suas benesses eram o principal tesouro. Alguns políticos encontraram solo fértil para arregimentar mais “seguidores” e fizeram história em Roraima.

Reclama-se que a “mídia nacional” só nos dá destaque quando há tragédias ou escândalos, porém somos os primeiros a tratar o Estado como reduto perfeito para se tirar vantagem em tudo. Paira no ar uma sensação de impunidade que parece nos dar a liberdade de faroeste, não apenas pelo quase isolamento em que vivemos em relação aos outros estados da Federação, mas também pela velha forma de se fazer política. Quando não há poder de reação e somos tratados como bois, muitas vezes só nos resta escolher entre o “sujo e o mal lavado”.

Saímos às ruas em dia de eleição, votamos (voto vendido ou não) mas, nos últimos anos, o principal “eleitor” tem sido a Justiça que, contrariando a vontade popular, decide quem governa. Afasta-se um, entra outro, vem uma onda de escândalos, tem-se mais um afastamento seguido de uma decisão judicial e não nos é permitido sequer pensar em novas eleições.

Enquanto isso, as torcidas ficam à espera dos próximos confrontos, acreditando que a “grande decisão” está chegando e que logo será conhecido o vencedor, mas sem perceber que a verdadeira derrota já foi imposta ao Estado há muito tempo, mesmo que o “árbitro” das longas batalhas judiciais ainda esteja longe de dar o “apito final”.

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