domingo, 29 de maio de 2011

Malandragem institucionalizada

Por Érico Veríssimo - Acadêmico de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e metido a blogueiro de vez em quando

Texto publicado originalmente no Blog: http://blogdoericoverissimo.wordpress.com


Érico Veríssimo
A “crise de valores” que nos acomete teve suas sementes lançadas em terras brasilis desde a chegada dos primeiros colonizadores, quando, até então, essas plagas eram habitadas apenas por silvícolas. A mistura de raças e o caldeirão de tons, cores e sotaques, só viriam acrescentar, após 511 anos da chegada de Cabral, mais pimenta no nosso “acarajé cultural” e na nossa bagunça: começamos mal, enveredamos por um caminho tortuoso e continuamos encontrando dificuldades para solucionar problemas que nos afligem repetidamente, destacando-se a corrupção em todos os níveis e matizes.

É inegável que a forma de povoamento e as “figuras” que aqui vieram habitar (degredados, bandidos, assassinos, enfim, a escória dos nossos primeiros “conquistadores”), contribuíram para traçar o perfil do povo brasileiro. Não é a genética dos povos que aqui se misturaram que explica a nossa devassidão, a propensão para o desvio de conduta e para se levar vantagem em tudo; a exploração desenfreada de nossos recursos, as tentativas de se tirar daqui tudo quanto possível sem nenhum retorno ou investimento e as falcatruas do tempo da Coroa continuam fazendo parte dessa nação multicor. Ou seja, a questão é mesmo de caráter!

Eduardo Bueno, jornalista e historiador, em seu livro “A Coroa, a Cruz e a Espada – Lei, Ordem e Corrupção no Brasil Colônia” retratou de forma fidedigna os primeiros tempos da colonização portuguesa no Brasil. É um relato histórico surpreendente, pois nos dá a impressão que, em se tratando de valores morais, pouca coisa mudou em mais de 500 anos de “descobrimento”. O livro aborda a história a partir de 1549, na Bahia, no governo de Tomé de Souza.

Através de documentos oficiais da época, Bueno nos mostra que Tomé de Souza veio acompanhado de dezenas de funcionários públicos em número bastante superior às exigências do serviço; com o governador “vieram algumas das mais marcantes características da burocracia estatal ibérica: o clientelismo, a leniência e o nepotismo, mazelas que, agravadas pela desigualdade, pelo absoluto desrespeito às leis e pela corrupção generalizada, continuam minando o desenvolvimento do Brasil.”

Os meios de informação cada vez mais diversificados e dinâmicos nos mostram as nossas feridas de maneira mais rápida e “democrática”, o que acaba nos dando a estranha sensação de que os dias atuais nos colocaram questões urgentes, nos causando espanto e crises de valores e de consciência. Na verdade, essa inclinação para o lado errado nos acompanha desde sempre. Vivemos tentados a corromper e a ser corrompidos, a levar vantagem nas pequenas coisas e nos deliciamos quando somos reconhecidos por estrangeiros como um “povo feliz, ordeiro e criativo”, mesmo sabendo que o tão festejado jeitinho brasileiro não passa de malandragem institucionalizada.

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