terça-feira, 24 de julho de 2012

Release da banda Los Porongas, por Alex Antunes



LOS PORONGAS, OU ISTO NÃO É UM RELEASE


por Alex Antunes


Isto não é um release. Porque um release costuma ter algo de cínico e vendedor. Veja, eu não disse que um release é sempre mentiroso – apenas que um release costuma se concentrar nas qualidades dos artistas. Los Porongas tem várias qualidades. Mas a principal delas é que Los Porongas é uma banda necessária. Se é necessária, não precisa ser vendida. Então, isto não precisa ser um release.


Não vou fazer gracinhas com o fato de Los Porongas virem da cidade de Rio Branco, capital do Acre, o estado que “não existe”. Porque essa no fundo é uma brincadeira melancólica e sem graça: o que não existe, pelo menos a esta altura dos acontecimentos, é São Paulo, que tem tudo e, de fato, não tem nada. Claro, São Paulo tem coisas como o Instituto Itaú Cultural, em cujo teatro e sob cujos auspícios o DVD dos Porongas foi gravado. São Paulo tem até… Los Porongas. A banda está morando aqui. E os Porongas, aonde vão, levam um Acre inteiro.


Acre significa mata, diversidade amazônica. De onde emana o equilíbrio e o respeito entre os diferentes povos. Significa uma calma, digna e atenta observação entre diferentes culturas, entre a vibe urbana e a tradição em estado mais puro, um diálogo onde se tenta inventar o Brasil, um laboratório do novo país – depois que a versão branca, elitista e predadora do Brasil velho já deu todos os sinais de colapso. Eu disse que isto não era um release.


Então não vou fazer comparações com outras bandas idealistas, como U2, Radiohead ou a nossa Legião Urbana, por mais que isso servisse para explicar algo da pegada dos Porongas, em que melodia, poesia e rítmica forte estão a serviço de uma intensidade visionária. Porque isso não é um release. E porque vários dos meus leitores mais desconfiados nesse momento estariam rindo. A esses, para quem rock é sinônimo de deboche (esquecendo que todo o deboche do rock nos anos 50, 60 e 70 estava a serviço de uma irresistível pulsão de transformação), eu talvez dissesse que Los Porongas, apesar de éticos, são inteligentes e divertidos pra cacete. Mas isto não é um release.


Quando decidiram partir do Acre para seguir com a carreira, os Porongas saíram em busca de caminhos menos defensivos e mais ambiciosos. Não por algum ganância ou carreirismo, mas por pura generosidade e grandeza de visão. Porque não é ecológico desprezar o grande público. Los Porongas vêm do Acre – e na metafísica do Acre eles aprenderam a não se alimentar de dicotomias, porque é o caminho mais curto para se espelhar no que você não gosta. Então não sejamos cínicos. E não escrevamos releases.


Los Porongas são Diogo Soares (voz), Jorge Anzol (bateria), Márcio Magrão (baixo) e Carlos Gadelha (guitarra), que assumiu as seis cordas no lugar de João Eduardo em em 2011… Seus dois álbuns figuraram entre os melhores de 2007 e 2011, respectivamente… mas isso tudo está na Internet. Porque este não é um release, não vou concluir usando o clichê de que, melhor do que falar dos Porongas, é assistir o DVD. Sim, faria sentido. Na verdade faria todo o sentido, porque só um show traduz toda a empatia, a potência e a inspiração dos Porongas. Só que este não é um release. Quem precisa de releases? Precisamos é de uma nova trilha, isso sim. E sobre quem tocará nessa trilha é fácil adivinhar o que eu sugiro.


Fonte: losporongas.com.br

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